terça-feira, 20 de maio de 2008

Apesar

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal

Apesar de você
Chico Buarque

Taça

Meu sorriso de menina sapeca, conhecido pelos amigos, me consola. Uma amiga de Brasília me escreveu dizendo sentir falta dele. E eu sinto saudade de todas as pessoas que me admiram, por alguma razão. Pessoas que confessaram gostar de mim, apesar de todos os meus defeitos. Pessoas que seguraram a minha mão quando eu precisei e falaram que eu coloco os outros para cima e, por isso, tenho que dar o exemplo. Penso a respeito dessas pessoas, que me fizeram muito bem, e cumpro com a minha promessa. Vou dar o exemplo.
Não é o primeiro, nem o último. Na verdade, eu sempre soube que não seria o último. Como eu disse, os copos roubados dos bares me atiçam. Acho o máximo chegar em casa com algum na bolsa. Já tenho até coleção. De tequila, chopp, cerveja, cachaça. Quero aumentar ainda mais. Meu próximo objetivo é uma taça de champanhe. Ainda bem que ainda tenho essas diversões infantis. Coisas tão simples, que me dão o maior tesão. Divirto-me horrores e tenho sempre uma amiga para brincar comigo.
Entramos no próximo bar, já com um copo na mão. Meu sorriso de menina sapeca já simpatiza com os garçons, que me deixam entrar com o copo cheio. Lá dentro, percebo que a vida acontece. A galera que trabalhou a semana inteira relaxa nas mesas sujas de restos de petiscos e chopps derramados. Guardanapos não servem para limpar, mas para escrever. Bilhetes nesses lugares são como mensagens no meio da madrugada. Batata.
A gente sempre combina não ligar para ninguém, não procurar. “Hoje não iremos arranjar sarna para nos coçar”. E pior que fiquei um tempão sem esses contatos na madruga. Até fui elogiada: “Estou perplexa. Parabéns! Admiro sua fidelidade.” Pois é, realmente fiquei na minha por um bom tempo. Respeitei. Também confesso que não tinha vontade de sair da linha. Estava satisfeita mesmo. Agora vou roubar copos e cativar com meu sorriso sapeca.
Pô, pode parecer estranho, mas tem um monte de gente que me acha alto-altral, agradável, boa companhia para as cervejas do fim de semana. Tem gente que me elogia, que vê coisas boas em mim. E são essas pessoas que eu quero por perto. Sou feliz com coisas pequenas, vejo sim coisas boas em mim, e ninguém vai mudar isso. Tô preparada para meu próximo objetivo!

terça-feira, 6 de maio de 2008

Verdades

“Foi só para te provocar!”. Ele tem a cara-de-pau de me dizer isso. E eu confesso que acho foda. São poucos os homens que assumem o que fazem, assumem o que sentem. Me orgulho dele pra caralho. Homem exemplar. Ele me abraça, me beija e diz que fez tudo de propósito. Que queria mesmo me deixar com ciúmes, que esse era seu único objetivo. Eu também admito tudo. Digo que morri de ciúmes, que foi sofrido. Assumo que fechei os olhos para não ver, que bebi mais do que devia e que tomei Dramin pra dormir.
Nossa estória não é uma partida de vídeo-game. Não jogamos um com o outro. Assumimos os fatos. E as coisas assim são bem mais fáceis. Ele me diz o que fez e eu digo o que senti. A gente ri e se diverte com tudo isso. Eu o amo mais que tudo. Desde sempre. E para sempre. E descobri que ele assume tudo. E então o amei ainda mais, como se isso fosse possível. Ele merece todas as delícias desse mundo.
Julia, cuide bem dele!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Fora

Às vezes percebemos que o desespero pode nos aliviar. E muito. Achei que fosse me sentir perdida, meio depressiva, sozinha, desiludida com o fim de um sonho. Mas esqueci que o sonho, quando torna-se real, deixa de ser sonho. Pois é...agora é realidade, e eu não sei se eu quero encarar isso.
Saí sozinha, com elas. Pouco fizemos. Rimos, bebemos, zanzamos pela zona sul. De um bar ao outro, pouco pensava no sonho (ou na realidade). Já não sabia se ainda era realidade. Podia ter voltado a ser um sonho, do passado. Vi que a vida acontece nas ruas, nos copos de cerveja roubados dos bares. As pessoas interagem. Riem. Bebem. Andam pelas calçadas. Molham-se na chuva fina que cai nessa véspera de feriado.
Eu me divirto. Gosto dessa vida. Percebo isso quando ele me dá a chance de revivê-la. Quando ele dá defeito. Acha que eu vou morrer. Mas eu não vou. E não falo isso por orgulho. Digo que não vou porque sou mais forte do que pareço. E a vida lá fora parece querer me abraçar. Que delícia. Chego em casa feliz. Durmo sem hora para acordar e acordo só na hora que eu mesma escolho.
Já não sei mais nada. O que parecia óbvio, às vezes, torna-se duvidoso. Só de uma coisa tenho certeza: no fim, tudo acaba em Koni.