terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Teatro

Acho que a vodka deve ter me deixado meio louca. Mas não apenas louca de álcool. Louca a ponto de cometer loucuras, de verdade. Eu queria dar na cara dele. Eu queria tirar sangue daquelas costas. Eu queria encontrar motivos para odiá-lo. Ele me pagou uma água, me sentou num sofá da área vip e me mentiu dizendo morar em Bonsucesso. “Por que você não acredita? O que importa não é o que temos, mas o que somos.” Aquilo era papinho de um playboy de boate, que eu queria espancar. Eu queria arranhar e enforcar aquele menino. Feio. Muito feio. O mais horroroso dos últimos tempos, sem dúvida. Mas algo me enfeitiçou. E, enfeitiçada, eu queria brigar com ele. Com tapas, sangue, força, ódio.

Ele me enlouqueceu. Com aquele beijo sem sentimento. Aquele beijo agressivo. Aquelas mãos fortes. As marcas pelo meu corpo. As dores no dia seguinte. E o ódio que tive, sem saber o porquê. Ele foi sensacional.

Naquela noite, contracenei num palco alto, cheio de expectadores. Fui a puta que eu tanto gosto de ser e há tempos não sou.


Faltam homens que saibam entrar nessa cena de teatro.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Lembranças

Quando me lembro dele, lembro também do meu corpo em êxtase. Lembro das minhas pernas e braços debatendo-se em minha cama. Lembro da respiração difícil, da falta de ar. Lembro dos meus pedidos de “pare, por favor!”. Lembro da minha sinceridade ao dizer “não agüento mais”. O prazer não cabia em minha alma. Lembro de palavras, dos gritos desesperados. Lembro da vontade de sempre mais. Lembro dos tapas implorados. Lembro da mão dele em meu pescoço. Forte como eu pedia. Lembro da puta que eu conseguia ser, todos os dias. Lembro de seu gozo jorando em minha bunda. Lembro da força que ele usava para me possuir. Lembro da minha entrega. Lembro que aquilo ali, ficou ali.

Mas sei que ele lembra. Lembra das minhas caras e feições. Lembra do meu descontrole. Lembra da minha vontade constante de mais, sempre mais. Lembra do quanto me desejava, tantas vezes por dia. Lembra do quanto eu era a melhor. Lembra que nada nunca será da mesma forma. Lembra de tudo que descobrimos juntos. De tudo que eu aceitei, provei e gostei. Lembra das posições, dos cheiros, dos sussurros e de mim.

Lembra de mim. Lembro dele.

E vivemos de lembranças.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Cinderela

Eu sou atriz. Cinco dias por semana, uso uma máscara. Escolho uma de minhas fantasias e uso uma maquiagem para parecer mais velha, mais séria. Atuo nesse papel cinco dias por semana, cerca de 12 horas por dia. Aparento ser simpática, motivada e sorridente. Falta-me caráter e ética. Esqueço tudo que os meus pais me ensinaram. Recrimino os pobres, o samba e o subúrbio. Não ando de ônibus, nem de metrô. Moro no Leblon e tenho o carro do ano. Meu namorado me leva em restaurantes caríssimos e paga a conta, claro. Mostro que produzo muito, inclusive nos fins de semana. Passo por cima de meus parceiros, na maior descrição. Digo, e depois desdigo. Faço tudo como manda o figurino.


Fingo viver um sonho, que está longe de um conto de fadas, materializado no Castelo da Cinderela. O castelo, eu vou rever ainda esse mês.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Eles não querem seres humanos.
Eles querem super man, batman, he-man e homem aranha.

Eu não quero eles.
Eu quero ética, postura e humanidade.