quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Mitos

Eu queria te encontrar. Ah, como eu queria. Queria olhar nos seus olhos azuis, de tão negros. Queria ver os seus cabelos, que derramaram minhas lágrimas em uma foto no banheiro, de tão grandes. Queria olhar a sua mão, com aqueles dedinhos, que eu pensava serem de neném. Queria tocar sua barriga, que eu tanto admirava, pelos muitos chopinhos ali guardados. Queria segurar seus pés, que roçavam nos meus e eu tanto gostava. Queria sentir seus dentes fora do lugar, e passar minha língua nos caminhos de sua boca, nada previsível. Seus cílios, quase inexistentes, e meu sorriso, como seus cílios. Seus braços e suas estrias, dessas eu confesso que tinha quase esquecido. Suas pernas, grossas, fortes e preparadas para o que eu quisesse. O barulho de você dormindo, e eu sonhando. Ou seria pesadelo? Nossas fotos contrastando o branco e o preto. As lembranças, as noites, em claro. Eu e você, sempre e apenas. Eu queria. Desculpa, mas eu queria. Queria que você visse meu sorriso, meus longos cabelos. Loiros, do jeito que você detesta. Minha alegria, meus amigos, minha vida. Ah, eu queria. Eu queria que você me visse. Linda e feliz. Gostosa e bem melhor. Garanto.

Ah, sim! Eu queria. Queria te ver e perceber que nada disso existe. Que nada disso nunca existiu. Que você é e sempre foi um mito. E mitos são coisas de criança...
Vamos brincar?

sábado, 26 de setembro de 2009

descobertas

sexta-feira, 9 da noite. estava esperando ele, que nunca vem. como já disse algumas vezes por aqui, pessoas se viciam nas mesmas historias e, por isso, eu tinha que arranjar um namorado que nunca vem. já estava meio pronta para dormir quando tocou meu telefone. eu tenho um serio problema: não resisto a uma cerveja. fomos. muito bom.

percebi que aquele ditado, ouvido das bocas mais cliches que conheco, faz realmente sentido. não me preocupei. não fiquei chateada. apenas percebi que minha crise dos 20 e muitos com certeza eh melhor do que aquela que vira, aos quase 40. percebi que ter enteado aos 20, eh menos desistimulante do que ter filhos. Percebi que dancar ate o chao, eh sim coisa de adolescente, mas que não eh tao grave estravasar vez ou outa. tem gente de quase 40, que beija como na epoca da escola, na frente de todos.

diverti-me demais com aquilo tudo. comprovei que seres humanos realmente são despreziveis. sim, alguns tentam me convencer do contrario, mas, por favor, sejamos realistas. uma vez, disse a um namoradinho, que ele era pior, em termos de carater, do que aquele que um dia foi o homem da minha vida. ele não acredita ate hoje. mas isso foi apenas mais uma coisa que comprovei ontem.

não estou chateada. nao estou preocupada. mas o mundo da voltas.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Vida

Tentar entender a vida, procurar porquês para acontecimentos, querer explicações para fatos é coisa para leigos. A vida é assim misteriosa, confusa, perdida. Inícios e fins acontecem todos os dias. Nascimentos e mortes. Idas e voltas. Tudo numa seqüência, não-lógica, não-temporal. Um ri, outro chora. Uma escolha, uma renúncia. Hoje é apenas hoje. O amanhã não conhecemos. Planos não concretizados. Encontros e desencontros. Dúvidas. Sonhos. Objetivos.

Não há sentido, nem explicação. A vida não pára. Acontecimentos incessantes. Beijos, estórias. Sexo e mais nada. Madrugadas, copos de cerveja. Nenhuma lembrança. Nostalgias de infância. Adolescência, vida adulta. Tudo tão rápido. Muitas pessoas, muitas sensações, situações. Amores, companheiros. Tudo intenso.

Mas não tente entender. Não há explicação. É tudo junto e misturado. É tudo essa grande loucura. E esse é o grande barato da vida. Não temos certezas. Não sabemos o que virá. Os mais inteligentes apenas vivem. Sem grandes planos, sem grandes perguntas.

Beba um xote, dance um samba, dê um sorriso, procure algo que te dê prazer. A vida é essa. E é muito boa para quem sabe curtir, relaxar, dar um pouco. Um pouco de amor, um pouco de dedicação, um pouco de alegria, um pouco de lealdade, um pouco de vontade, um pouco de você.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Pravocê

As pessoas se viciam nas mesmas estórias. Só mudam os personagens. O enredo é o mesmo. Não conseguem pensar fora da caixa, entender que a mudança faz parte do processo de crescimento. Mesmas doenças, mesmo início, meio e fim. Mesmas posições, mesmas rotinas, mesmas cobranças. Mesmas implicâncias. Mesmo tudo. Menos eu.

Pelo menos, de tapa na cara eu gosto. E muito. Pode bater.
Vai, com força, porra!!!!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Tempo

Era uma vez uma estória de 20 e poucos anos. Mas o tempo passa, os cabelos crescem, ficam loiros, o peito cai, a barriga cresce, a perna flácida, as maquiagens mais caras, as roupas mais longas, os biquínis maiores e a maturidade. Os 20 e poucos anos vão ficando para trás. Assim como a Moonight, os Cabofolias, Garopaba, Porto Seguro, ônibus de madrugada, cachaça com Sprite, vans da Bernadete, beijos escondidos, forrós da lagoa, praia no Pelé, festas americanas, música lenta, cinto de placa, saia de coton, calça de moletin, os muitos namorados, as comparações, as vontades, desejos e nenhuma resistência a nada. As raves, noites viradas, aulas aos sábados, matinês, sexo no corredor, na piscina e na pista de skate. Guardiãs de sofá, cervejas até o amanhecer, loucuras etílicas e mensagens indevidas. A falta de orgulho e a falsa idéia de conhecer tudo. Tudo isso ficou, numa estória de 20 e poucos anos.
Daqui a pouco, quase no tempo de um piscar de olhos, começa uma estória de 30 e poucos anos. Não sei bem como será. Mas imagino algo como casamentos, filhos, mais contas para pagar, menos verba para gastar, menos tempo para a cerveja, mais trabalhos domésticos, creches, deveres de casa, reuniões escolares. Aulas de inglês, ginástica olímpica, brigas entre irmãos. Zona norte, café da manhã e jantar na mesa, passeios de bicicleta, nenhum samba. Obrigações a dois, cobranças, falta da minha tão amada independência. Lembranças e nostalgias de uma época muito, mais muito bem vivida.

Nesse domingo faço 18 anos.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Bons

Eu queria ser blasé. Não pensar em porra nenhuma a não ser no tipo de escova que vou fazer para uma festa de 150 reais que vou nesse sábado. Queria esquecer o comportamento humano e deitar no meu sofá para ver sessão da tarde. Não pensar em porra nenhuma a não ser no penteado da atriz principal. Queria apenas brindar meu champanhe após o trabalho e reparar no modelito do vestido da loira ao meu lado.
Na verdade, eu queria mesmo era parar de contestar e seguir esse fluxo babaca da sociedade. Queria internalizar a babaquice, porque assim eu não perceberia o quão babaca são as pessoas. Queria achar que sou o máximo porque tenho a bolsa da Louis Vitton e os óculos da Diesel. Queria acreditar que o que sou se resume ao meu cabelo bem tratado, meu corpo esbelto e minha maquiagem da L´Oreal. Queria comprar minha felicidade nos bilhetes de festas de playboy. Queria trocar minha tranqüilidade pelo meu status social. Queria dizer por ai que a cidade em que vivo é apenas violência e andar no meu carro blindado, com um motorista negro.
Mas, o que eu queria mesmo era acreditar nessas pessoas. Acreditar, como os babacas que comem a comida da empregada, que os seres humanos são bons. Queria acreditar que ninguém faz nada por mal. Que as pessoas não percebem, fazem por descuido, distração. Queria acreditar que essa patricinha babaca milionária não paga o que consome porque não percebe que comeu, bebeu, dançou.

Ela não é estelionatária.

As pessoas são boas, né babacas?

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Por que?

A tristeza nos faz escrever. A angústia nos faz escrever. A dúvida nos faz escrever. A insônia nos faz escrever. A carência nos faz escrever. O medo nos faz escrever. O incerto nos faz escrever.

Nós não lemos textos felizes, de autores bem resolvidos. Os melhores foram e são aqueles que pensam, criticam, revoltam-se, negam. Os melhores se suicidam. Os melhores se afogam no álcool, no cigarro, nas drogas. Os melhores não dormem, vagam pelas madrugadas boêmias. Os melhores lêem os melhores e copiam as suas formas de depressão.

A criatividade vem da dor. Os melhores têm dor intensa, profunda, eterna.

...

Acho que é por isso que não tenho mais conseguido escrever.