sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Clac

Ela só queria viver tudo aquilo de novo: aquele acordar delicado, aquele sorriso sutil, aquele querer incessante, aquele prazer devastador. Ela só queria a combinação de uma manhã serena e tranqüila com uma noite de loucura e tesão. Ela só queria poder sentir novamente a sensação de paz e paixão. Ela sabia que isso era possível. E queria cultivar momentos assim, que a fariam esquecer de todos os outros, que não foram bem assim.
E ela sabia que um dia isso ia acontecer, assim como um estalo. Clac. E assim foi. E no dia que isso viesse, seria a entrega total. Seria a abertura definitiva da porta, que traz um coração cheio de amor para oferecer. Seria a verdadeira estória, com as afinidades, a sinceridade, a fidelidade, a amizade e a lealdade. Seria sério. De uma forma como nada antes foi encarado.
E assim ela promete ser. Porque essa sensação não se explica, não se escreve. Essa sensação apenas faz querer gostar cada vez mais. Querer cada vez mais. E um dia, ter a certeza de um amor. Um amor seu, um amor meu, um amor nosso. Para sempre, nosso!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Novo

O sábado era de sol. E não poderia ser diferente. Com o cansaço de quem chegou às 6 da manha, os olhos se abriram fazendo-a perceber que tudo aquilo tinha sido muito mais do que um sonho. Era verdade, e dessa vez era mesmo. A felicidade invadia o coração, embora não pudesse negar que também havia uma sensação de estranheza. É uma mudança de vida, não podemos negar. E toda mudança vem acompanhada de certo medo, insegurança.
Mas isso era muito pouco comparado ao alívio que a nova vida trazia. Novos sorrisos, novas estórias, novos abraços, novas rotinas. Uma infinidade de novidades que estava por vir e mostrar como a vida pode ser gostosa. Ela estava animada e disposta a dar todo o amor que alguém pode merecer. Disposta a investir em laços fortes, reais e sinceros. Disposta a viver de verdade, e não pela metade.
E ela sabia que ele também pensava assim. E, dessa forma, as chances de um envolvimento eram grandes. Ela olhou o céu, o sol, o chorinho. E sorriu. Sorriu para a música, para o dia ensolarado. Sorriu para as crianças na rua. Sorriu para ele. Pensou em tudo que estava por vir, em tudo que poderia ser construído, em tudo que aquele momento estava lhe oferecendo.
Agradeceu por, enfim, ter o que achava que merecia, há tanto tempo.
Um novo amor.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Mágica

Lembro das crianças, enfileiradas, na festa infantil. Atentas, observavam aquele moço de preto, com chapéu quadrado. Ele fazia muitas coisas inexplicáveis e todos queriam entender como aquilo acontecia, qual era o segredo do coelho branco e do pombo que saía voando pela platéia. Coisas inesperadas acontecem e, desde pequenos, queremos entender o porquê, o como, o quando, o quanto e o aonde. Mas não temos respostas para todas as perguntas.
Por isso, conforme fui me tornando um pouco menos criança, fui percebendo que, muitas vezes, o melhor é não buscar explicações. As coisas mais bonitas, são as que não esperamos acontecer, são as que não conseguimos explicar, são as que mal conseguimos de fato entender.
As moedas que saem da orelha do moço nos interessam justamente porque não sabemos como elas surgem. O bonito é o mistério. E a vida é cheia deles. Vivemos sem saber o que pode acontecer logo ali, daqui a pouco. Mas vivemos, fazemos planos, desejamos construir castelos em que caibam muitos coelhos brancos.
Vejo que a felicidade está exatamente no segredo. Na busca de um entendimento que é diferente na cabeça de cada pessoa. Mas, às vezes, duas pessoas podem descobrir o mesmo segredo. E ai....
Ai, os segredos do moço de preto passam a ser muito pouco. Porque a grande mágica agora é a própria vida.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Caderno

"A vida se abrirá, num feroz carrossel."

terça-feira, 30 de setembro de 2008

É

Criei meu vazio. E isso é simplesmente maravilhoso!

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Perceber

O dia passou a ser noite e você nem percebeu. As luzes coloridas da cidade ascenderam e você nem percebeu. O cartão de crédito pagou por um novo vestido branco e você nem percebeu. O tempo passou. E você nem percebeu.
Até que alguém berra nos seus ouvidos: "25???????? Caraca, muito velha!" E você percebe. A euforia da proximidade do aniversário é substituída pelo pânico da idade. O que, na verdade, é uma besteira já que envelhecemos a cada minuto. Não é no dia do aniversário que, de repente, ficamos um ano mais velhos. Mas, talvez seja esse o dia que percebemos.
Todos ansiosos por uma comemoração. Um quarto de século. Sempre é bom ter um motivo para reunir os amigos mais próximos e encher a cara de cerveja. Sem nem perceber, estamos bêbados. Sem nem perceber a noite passou. E o fim-de-semana. O mês. E daqui a pouco um outro aniversário.
Tudo assim: num passe de mágica. Sem nem percebermos. As coisas mudam tão rápido, que nem percebemos. Onde era o Parque da Mônica virou a Vale. Onde era o cinema virou igreja, ou farmácia. Onde era uma linda casa, virou um edifício de 30 andares. Onde era uma criança, virou uma adulta.
As tardes livres, as aulas de inglês, de ginástica olímpica, as brincadeiras no play, as amiguinhas em casa. Tudo isso virou um dia inteiro de trabalho, pós-graduação à noite, cuidados com saúde, beleza e afazeres domésticos. E eu nem percebi. Aposto que você também não.
Nem percebemos e tudo acontece num ritmo que não conseguimos acompanhar. Tudo muda, tudo se renova. Nunca estamos up to date. Sem nem perceber, vou estar mais gorda, o peito mais caído, a pele mais maltratada. Sem nem perceber, vou olhar uma fotografia e pensar que com 25 eu não percebia o quanto era jovem.
Vamos aproveitar tudo. Nada de preguiça. Nada de dormir por horas. Nada de televisão. Somos jovens enquanto vivermos. Porque, sem nem perceber, a vida acabou.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Estalo

E disse algumas coisas ontem, acreditando realmente nas minhas palavras. Vai fazer um “crec” e eu vou morrer de rir. Talvez me irrite um pouco e me bata, me dê uns tapas para sentir dor. Mas aí será uma dor gostosa de sentir, uma dor de vitória, de alívio, de passado, de futuro. E esses tapas serão mais educativos do que os socos que me dei ontem por ser tão idiota. Queria sentir a dor merecida do castigo. Queria me martirizar por querer algo tão horrível. E ai, soquei a mim mesma. Percebendo, em uma fração de segundos depois, o quanto isso é não-normal. Mas afinal, alguém aí é normal?
Enfim, eu não sou. E mostro minha doença nos desejos proibidos pelo amor-próprio. Nas fantasias que a auto-estima, há muito destruída, tenta bloquear. Na força de vontade que não existe, mas que o peso na consciência tenta inventar. Preciso acreditar que não quero para depois realmente não querer. Preciso abrir. Abrir a porta. Abrir a cabeça. Abrir o coração. Abrir a vida. Fechar uma porta e abrir várias. Mas preciso abrir.
Peço ajuda para amigas que, com pena, dizem que a única pessoa que pode me ajudar sou eu mesma. Como se eu não soubesse, continuo pedindo ajuda, numa tentativa de tirar a culpa de mim mesma. Esquecer que o erro sou eu. Elas me ouvem, com toda atenção. E me ajudam, ao me dar carinho. E esse carinho balanceia com a falta de carinho recebida do outro lado. Busco atenção porque confesso estar precisando de abrigo.
O banheiro da empresa virou meu melhor amigo. É ele que seca minhas lágrimas, nos incontáveis pedaços de papel arremessados no cesto de lixo. Um jogo de basquete individual, que tenta me distrair. Ultimamente tudo tem sido individual. E isso, talvez, seja uma opção minha. Mas aí vem a estória do “crec”.
Um dia vai dar um estalo e eu não vou querer lembrar desses 2 anos. Vou preferir esquecer meus dois últimos aniversários, natais e réveillons. Vou querer esquecer dos sábados e domingos. Na verdade, vou querer esquecer também as segundas, terças, quartas, quintas e sextas. Vou querer esquecer o cheiro, a pele, os dedinhos de neném. Vou querer esquecer as seqüências de sexo, essas quase inesquecíveis. Vou preferir esquecer daquele que foi a maior paixão da minha vida. Mas, de uma coisa eu nunca esquecerei: meu pai me ensinando, antes das minhas primeiras palavras, que paixão é doença.
Te amo pai, mas, infelizmente, essas coisas não se aprendem.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Desculpe

E assim eu fiz. Fiz com ele a mesma coisa que fizeram comigo por 2 anos. Fiz com ele a mesma coisa que me fez sofrer tanto. Fiz com ele a mesma putaria que eu não desejo a ninguém. Fui escrota como aquele outro foi comigo. Igualzinho. Desliguei o celular e dormi. Dormi sozinha, o que talvez me absolva de um pouco da maldade que também já fizerem comigo.
Mas dormi. E desliguei o celular. E deixei ele ligando. 10 vezes. Deixei ele esperando. Deixei ele querendo. Deixei ele fantasiando. Iludi alguém. Exatamente como fizeram comigo. Senti-me péssima por isso, mas não o suficiente para me impedir de dormir. Dormi, mas sonhei. Sonhei com a canalhice que eu estava fazendo. Tive remorso mesmo. Mas mesmo assim fiz. Tento me confortar pensando que pelo menos eu me sinto culpada, enquanto o outro cagava para mim, para as minhas lágrimas, minhas aflições, minha vida. Eu me preocupei com o que eu estava fazendo. Mas fiz.
Pensei em procurá-lo. Não para inventar uma estória, embora eu tenha uma coleção de desculpas desse tipo, anotadas na minha agenda, integradas ao meu sofrimento. Não para prometê-lo um próximo encontro, já que sei que este não aconteceria. Mas para lhe dizer que ele não me merece. Achei melhor não ligar. Como é engraçado. O outro não me merece e o bonitão sou eu que não mereço. Como é a vida né?
Chega um dia em que os dois se merecem. Duas pessoas unidas pelo merecimento de um amor. Ainda não chegou minha vez. Nem a do outro. Nem a deste aqui.
Desculpe, mas eu não consegui seguir em frente com essa nossa nova estória. E, mesmo assim, obrigada pelo carinho.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Não

Por que com tantas pessoas no mundo nós escolhemos apenas um? E esse um é o responsável pelo sorriso e pela lágrima. Nenhum outro é capaz de conseguir arrancar sentimentos desse coração machucado. Esse um pode fazer o que bem entender, que sempre terá uma resposta: lágrima ou sorriso. Ele terá uma resposta. Quase sempre: lágrima.
E insisto numa estória sem futuro, sem sorrisos. Uma estória sem presente. Ela existe apenas nos meus pensamentos, no meu travesseiro. Ela está cravada na fronha amarela que guardou seu cheiro. Marcada nas fotos retiradas da casa, mas ainda na memória. A escova de dente jogada no lixo, mas ainda ali, no banheiro, a sua lembrança. Os momentos continuam pelos cômodos, na minha cama quebrada.
O celular vibra, mas seria melhor que não. É sempre a mesma decepção quando o visor indica um outro nome. Tantos nomes e nenhum me interessa. Tantas vezes vibrando, mas nunca é você. O tempo passa, e talvez esse vazio também. Talvez algo aconteça para me tirar desse buraco. Não será apenas a minha força. Algo me ajudará a sair desse labirinto, eu sinto isso.
Lembro dos bons momentos. Acho que foram poucos. Sim, poucos, se comparados aos ruins. Se você soubesse de metade das lágrimas que já derramei por você. Ainda bem que não sabe. Não deveria saber de nenhuma delas, na verdade. Vejo que estou perdendo meu tempo, minha vida. Mas algo me prende. Esse algo tão misterioso.
Queria você aqui, no meu quarto. A TV ligada, a cerveja gelada, um cigarro. Muitos papos, carinhos. Nada demais. Uma ruffles. Quem sabe uma pizza? Eu e você. Na cama quebrada. Um abraço que me é tão distante. Mas talvez fosse me tirar um sorriso. Para depois, mais mil lágrimas. E tudo outra vez.
Não.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Enfim

Sabia que seria natural. Eu realmente não consigo sofrer de paixão. Mas, naturalmente, desapaixonei. Demorou. Demorou muito mais do que eu queria. Enfim, chegou. Que alívio. Consegui tocar a paz que estava esse tempo todo presa dentro de mim. Ela se libertou. Sinto que emagreci 50 quilos. Quase todo o meu peso corporal. Estou leve como uma pluma. E como dizer que isso não é felicidade? Estou mais bonita. Na verdade, devo estar idêntica, mas me sinto muito mais bonita. Sorriso de menina sapeca.
A vida sobre a qual eu tanto escrevi já se mostrou para mim. Graças a deus, eu não perdi a prática. Continuo boa nisso. Posso sorrir todos os dias e mesmo que eu durma na transversal, terei paz. Paz: uma das coisas que Mastercard não compra. Fazem 7 dias que não derramo uma lagrima. Fazem 7 dias que não falo com ele. Coincidência? Não espero mais meu telefone tocar. Ele não toca. Já não tocava antes, mas mesmo assim eu esperava. Agora não espero mais. Na verdade, espero. Mas a minha espera agora tem sentido, porque ele toca, sim. E alguém do outro lado da linha me chama de linda. Banal. Mas é o que eu precisava.
Acabou e eu estou feliz. Muito feliz. Enfim, consegui. Minha vida vai voltar a ser colorida. Nada descreve o meu alívio. Sei que ele não vai me procurar e confesso que adoro ter essa certeza. Assim não cairei em tentação. Dessa vez, não terminei esperando a volta, esperando a demonstração do amor e da saudade. Já disse que nunca teve amor, não vai ser agora. Melhor assim, porque agora sou eu que não quero.
Bebi todas no sábado e voltei para casa pensando. “Caraca, fiquei 2 anos com uma pessoa que nunca gostou de mim”. Chega a ser cômico, para não dizer desesperador. Logo eu. Com tantas opções. 2 anos. Nunca gostou. Se tenho raiva dele? Claro que não. Tenho raiva de mim, que insisti numa piada dessas. Mas hoje, confesso que estou orgulhosa de mim mesma. A vida ta aí. Meu telefone tocando. O chopp gelado na mesa. Umas batatas fritas gordurosas. A rua. A noite. As pessoas. A VIDA. Caralho, a vida!
Que bom que acabou. Eu mereço muito mais. Ah, se te desejo felicidade? Não, te desejo amor. Espero que um dia você ame alguém de verdade. A felicidade é conseqüência.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Fim

Sinto que sou outra. Sei lá, tô diferente. Nunca fiquei assim. Triste de verdade. Diminuída e não decidida. É exatamente isso. Claro que tenho consciência de que a culpa é unicamente minha. A paz está dentro de mim. A felicidade também. E eu não me permito usufruir delas. Com certeza é uma patologia, estudada e explicada por Freud. Não é amor. Eu já amei e sei bem o que é esse sentimento. É uma doença. Mas tenho bem claro que eu não sou doente. Eu estou doente. É muito diferente.
Sei que há um mundo que me chama lá fora e preciso vivê-lo. Preciso sair desse estado. Mas preciso sair por mim mesma. Não adianta de nada sair esperando voltar. Não adianta querer ver o outro mostrar o amor. Se não mostrou até hoje, não é agora que vai acontecer. Não adianta querer vê-lo correndo atrás, se nunca correu, não será agora. Não adianta querer nada que se relacione ao outro. O que é preciso é querer algo comigo, algo de mim.
Preciso me desprender completamente, esquecer que vivi isso. Esquecer de todos os momentos. Na terapia, dizem que é preciso lembrar para esquecer. Mas eu já lembrei demais, já posso esquecer. Chega disso. Acho que será o primeiro que não me trará nenhuma lembrança gostosa. Eu não sou assim. Mantenho ótimas relações com todos do passado. Mas preciso entender que agora ser assim é mais do que necessário. É o meu tempo que está em jogo. É a minha vida.
As coisas estão acontecendo e eu presa à uma história que só me desvaloriza, que só acaba comigo. Tenho cada vez mais consciência de que não chegarei a lugar nenhum assim. Preciso voltar a ser bonita e interessante. Preciso voltar a atrair as pessoas. Preciso voltar a ser amada. A ser valorizada. A ser abençoada. Preciso voltar a ser eu mesma.
Acho que o sofrimento tão grande e constante é porque tem uma hora que as relações realmente acabam. Depois de tantas idas e vindas, acabamos achando que sempre haverá volta. Mas não. Dessa vez, percebemos mesmo que acabou. Tanto que não temos coragem de brigar. Não conseguimos gritar. Muito menos conversar. Parece que as coisas são ditas por si só. E o fim definitivo virá naturalmente. Sofrido, mas natural.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Desalento

"Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu rodei
Que eu bebi
Que eu caí
Que eu não sei
Que eu só sei
Que cansei, enfim
Dos meus desencontros
Corre e diz a ele
Que eu entrego os pontos"

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Schopenhauer

Estou terminando de ler “A Cura de Schopenhauer”. Faltam algumas poucas páginas que eu estou guardando para ler num momento especial. Não queria que o livro estivesse acabando... Ele me conforta. Tudo bem que Schopenhauer era extremamente pessimista e que o personagem da estória que vive de acordo com seus paradigmas irrita qualquer leitor. Mas, confesso, e podem me chamar de desiludida, pessimista ou o que for, que gostei de muitas idéias desse cara e estou até adotando algumas para a minha vida. Foi meio inconsciente, no início, mas quando me dei conta, percebi que estava vivendo meio que dentro do livro. Que complexo!
Na verdade acho que adaptei suas idéias à uma forma de vida que, no momento, estou julgando adequada para mim. Desapego é a primeira delas. Os nossos sonhos têm que ser construídos em cima de nós mesmos. Não vá achando que alguém nesse mundo vai encarar seus problemas (e nem mesmo suas alegrias) com você. Isso é pura ilusão. Ninguém está preocupado com ninguém, a verdade é essa. E não me diga que acredita na ilusão do amor. As pessoas dizem que amam o outro, mas o que elas amam mesmo é o prazer que o outro lhe proporciona. A partir do momento que o objeto amado não puder mais ceder tanto prazer, acabou-se. Não existe amor.
Por isso, cada um deve se amar. Amor-próprio. Essa é a chave. Não concordo quando Schopenhauer diz que devemos viver no isolamento. Podemos socializar, afinal ninguém é melhor que ninguém. Mas sabendo que aquelas relações são passageiras. É um erro construir planos baseados no outro. A vida é apenas de um. Prova disso é o fato de podermos viver sozinhos, independentes na sociedade. Convivendo sim, mas sem laços fortes. Cada um cuida de si e se quiser ajudar ao próximo, ótimo, mas, por favor, não espere nada em troca. A recompensa dificilmente virá.
Estou achando que no final do livro, o personagem que vive a pele de Schopenhauer vai perceber o quanto é importante o amor ao próximo. Aí que a estória vai me decepcionar. Mas, como nos filmes Hollywoodianos, o final tem sempre que ser o esperado pelo público. O livro é um Best seller, um produto. Vivemos no capitalismo.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Apesar

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal

Apesar de você
Chico Buarque

Taça

Meu sorriso de menina sapeca, conhecido pelos amigos, me consola. Uma amiga de Brasília me escreveu dizendo sentir falta dele. E eu sinto saudade de todas as pessoas que me admiram, por alguma razão. Pessoas que confessaram gostar de mim, apesar de todos os meus defeitos. Pessoas que seguraram a minha mão quando eu precisei e falaram que eu coloco os outros para cima e, por isso, tenho que dar o exemplo. Penso a respeito dessas pessoas, que me fizeram muito bem, e cumpro com a minha promessa. Vou dar o exemplo.
Não é o primeiro, nem o último. Na verdade, eu sempre soube que não seria o último. Como eu disse, os copos roubados dos bares me atiçam. Acho o máximo chegar em casa com algum na bolsa. Já tenho até coleção. De tequila, chopp, cerveja, cachaça. Quero aumentar ainda mais. Meu próximo objetivo é uma taça de champanhe. Ainda bem que ainda tenho essas diversões infantis. Coisas tão simples, que me dão o maior tesão. Divirto-me horrores e tenho sempre uma amiga para brincar comigo.
Entramos no próximo bar, já com um copo na mão. Meu sorriso de menina sapeca já simpatiza com os garçons, que me deixam entrar com o copo cheio. Lá dentro, percebo que a vida acontece. A galera que trabalhou a semana inteira relaxa nas mesas sujas de restos de petiscos e chopps derramados. Guardanapos não servem para limpar, mas para escrever. Bilhetes nesses lugares são como mensagens no meio da madrugada. Batata.
A gente sempre combina não ligar para ninguém, não procurar. “Hoje não iremos arranjar sarna para nos coçar”. E pior que fiquei um tempão sem esses contatos na madruga. Até fui elogiada: “Estou perplexa. Parabéns! Admiro sua fidelidade.” Pois é, realmente fiquei na minha por um bom tempo. Respeitei. Também confesso que não tinha vontade de sair da linha. Estava satisfeita mesmo. Agora vou roubar copos e cativar com meu sorriso sapeca.
Pô, pode parecer estranho, mas tem um monte de gente que me acha alto-altral, agradável, boa companhia para as cervejas do fim de semana. Tem gente que me elogia, que vê coisas boas em mim. E são essas pessoas que eu quero por perto. Sou feliz com coisas pequenas, vejo sim coisas boas em mim, e ninguém vai mudar isso. Tô preparada para meu próximo objetivo!

terça-feira, 6 de maio de 2008

Verdades

“Foi só para te provocar!”. Ele tem a cara-de-pau de me dizer isso. E eu confesso que acho foda. São poucos os homens que assumem o que fazem, assumem o que sentem. Me orgulho dele pra caralho. Homem exemplar. Ele me abraça, me beija e diz que fez tudo de propósito. Que queria mesmo me deixar com ciúmes, que esse era seu único objetivo. Eu também admito tudo. Digo que morri de ciúmes, que foi sofrido. Assumo que fechei os olhos para não ver, que bebi mais do que devia e que tomei Dramin pra dormir.
Nossa estória não é uma partida de vídeo-game. Não jogamos um com o outro. Assumimos os fatos. E as coisas assim são bem mais fáceis. Ele me diz o que fez e eu digo o que senti. A gente ri e se diverte com tudo isso. Eu o amo mais que tudo. Desde sempre. E para sempre. E descobri que ele assume tudo. E então o amei ainda mais, como se isso fosse possível. Ele merece todas as delícias desse mundo.
Julia, cuide bem dele!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Fora

Às vezes percebemos que o desespero pode nos aliviar. E muito. Achei que fosse me sentir perdida, meio depressiva, sozinha, desiludida com o fim de um sonho. Mas esqueci que o sonho, quando torna-se real, deixa de ser sonho. Pois é...agora é realidade, e eu não sei se eu quero encarar isso.
Saí sozinha, com elas. Pouco fizemos. Rimos, bebemos, zanzamos pela zona sul. De um bar ao outro, pouco pensava no sonho (ou na realidade). Já não sabia se ainda era realidade. Podia ter voltado a ser um sonho, do passado. Vi que a vida acontece nas ruas, nos copos de cerveja roubados dos bares. As pessoas interagem. Riem. Bebem. Andam pelas calçadas. Molham-se na chuva fina que cai nessa véspera de feriado.
Eu me divirto. Gosto dessa vida. Percebo isso quando ele me dá a chance de revivê-la. Quando ele dá defeito. Acha que eu vou morrer. Mas eu não vou. E não falo isso por orgulho. Digo que não vou porque sou mais forte do que pareço. E a vida lá fora parece querer me abraçar. Que delícia. Chego em casa feliz. Durmo sem hora para acordar e acordo só na hora que eu mesma escolho.
Já não sei mais nada. O que parecia óbvio, às vezes, torna-se duvidoso. Só de uma coisa tenho certeza: no fim, tudo acaba em Koni.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Julia

E lá chegou ela...de boné! Sim, de boné! Cabeça baixa, olhava pro chão. Lembrei de mim mesma na hora que a vi caminhando em nossa direção. Tímida, muito tímida. E lembrei também dele me dizendo que ela era muito parecida comigo. E lembrei de Freud e meu enorme amor por ele. Ela realmente me lembrou mim mesma. Lá na minha adolescência, conhecendo a família do primeiro namorado. Mal sabe ela que ainda vai ter várias sogras, analisando todos os seus gestos. Talvez ela não tenha cunhadas ciumentas assim, mas sogra, com certeza ainda terá muitas. E põe muitas nisso.
Mas ela deve achar que não. "Vamos ser felizes para sempre" e por isso preciso aguentar essa familia, esse almoço de domingo, essas pessoas me olhando. Preciso ser simpática, mas não consigo, morro de vergonha de tudo. Faço um prato de arroz a piamontese com escalopinho e como sem falar nada. Torço para essa tarde acabar logo. Quem essa irmã dele acha que é? Nao pára de me olhar! Que menina desagradável.
Enquanto isso, eu me mordendo. Tomando 362 latas de cerveja. Fingindo que estava tudo ótimo, melhor impossível. Porra, já disse mil vezes que até ontem ele era meu bebê...e agora ele tá aqui na minha frente "Mor...ai Mor...." Mor???? Tá de sacanagem né?? Que coisa mais brega. Chama logo de Mozinho então!! Ai meu Deus. E eles se abraçam, se beijam. Eu finjo estar dormindo na cadeira de praia. Minha prima me olha com aquele risinho irônico e provocativo. Eu finjo nem perceber. Estou fingindo tudo hoje. Como se meu sábado já tivesse sido muito bom, finjo que meu domingo está completando o fim-de-semana.
Resolvo ir embora. Sim, não quero mais ver isso. Não quero mais estender esse domingo. O fim-de-semana foi uma merda por completo. Vou dormir. Às sete da tarde. Faz muito tempo que não durmo por 12 horas seguidas. Tchau, Julia. Até a próxima!
Ahh!! E ela não toma Coca-Light. A única frase que ela pronunciou durante a tarde deste maravilhoso domingo foi: "Sou viciada em mate com limão, o normal". Ela é magrinha mesmo...e escapou da pimenta.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Nunca

Lá venho eu de novo com minha fingida aversão a ditados populares. “Nunca diga nunca”.
Nunca vou freqüentar a Barra. Nunca vou comer peixe cru. Nunca vou te perdoar. Nunca mais vou encontrá-lo. Nunca vou ligar para ele. Nunca vou correr atrás. Nunca vou gostar de cerveja. Nunca vou sair da casa dos pais. Nunca vou namorar um barrense. Nunca vou casar. Nunca vou ser fiel. Nunca vou ser dependente. Nunca vou ser caseira. Nunca vou fazer intercâmbio. Nunca vou falar bem inglês. Nunca vou repetir de ano. Nunca vou estudar no São Vicente. Nunca vou achar que estou grávida. Nunca vou escalar uma montanha. Nunca vou deixar de comer doce. Nunca vou tomar um doce. Nunca vou lavar roupa de homem. Nunca vou deixar de ser pão-dura. Nunca vou querer sair do Rio. Nunca vou ser amante. Nunca vou ser orgulhosa. Nunca vou tratar bem a namorada do meu irmão. Nunca vou ter 12 horas de obrigação por dia. Nunca vou aceitar acordar às 7 da manhã. Nunca vou ter um blog. Nunca vou estudar finanças. Nunca vou gostar de televisão. Nunca vou fazer o que eu não quero. Nunca vou namorar com ele.
Salve os ditados populares!!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Passado

Paro para pensar naqueles momentos vividos ao lado dele. Éramos completamente diferentes, mas nos completávamos. Eu era feliz pra caralho. Tinha tudo que a personagem da novela das 8 luta para ter e só consegue no último capítulo. E ele tava ali. Para mim. Sempre. Vivemos, crescemos, dividimos, aprendemos, cedemos, compreendemos e, é claro, amamos. E digo isso sem hipocrisia porque amamos mesmo. Aquele amor verdadeiro no fundo da alma. Acabou.
Assim, numa conversa de telefone. Acabou. Fim. Game over. Ninguém acreditou, nem mesmo eu. Quando percebi, tinham-se passado meses e a falta foi pouca. Confesso sem peso na consciência. Amei muito e talvez por isso a saudade não tenha sido tão pesada. Amava e desejava o bem. Acima de tudo. Não queria prender a mim uma pessoa que merecia alguém por completo. Eu não estava mais ali. Estava aqui, onde estou até hoje, um ano e meio depois.
E agora sou eu que estou presa, e é um presídio gostoso. Admito que talvez haja até uma certa dependência, vontade intensa do sempre, do para sempre. Levo tudo que vivi como requisito para o agora, um agora delicioso, sonhado, desejado. O ele do passado também deve estar preso, ou talvez acomodado. Acho que pela sua personalidade, acomodado. Que merda! Quero vê-lo em um cela arrumada, com ela.
Acomodado ou preso, ele está feliz. Ele é feliz. Não pensa muito, vida sem reflexões muito profundas. Por isso, é feliz. Os mais filósofos que me desculpem, mas às vezes, invejo esse não-pensar. Essa felicidade superficial. Onde, para mim, tudo seria mais fácil. Mas hoje, mesmo com os milhões de pensamentos/reflexões/angústias/questionamentos estou presa.
Caralho! Nunca imaginei que estar presa fosse tão bom! To feliz pra caralho! (já usei o “caralho” 3 vezes, agora 4).
Pois é, a mulher independente, feminista e extremista está presa. E feliz pra caralho!

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Tempo

Odeio concordar com esses ditados populares, mas hoje não tem jeito. "O tempo é o melhor remédio". Realmente. Pena que o efeito não é imediato. Puta que pariu gritado bem alto. Esse tempo que não passa e eu ansiosa para que ele seja meu remédio.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Irmão

A gente reclama que o tempo passa rápido demais. Mas vive torcendo para que o dia de trabalho termine logo, para que chegue sexta-feira, para que a aula acabe. Dizemos que cada ano que passa é mais rápido, mas reclamamos incessantemente da rotina. Tudo muito contraditório. Fato é que eu faço parte dessas pessoas que falam da velocidade do tempo. Outro dia meu irmão fez 18 anos. Maior de idade. Assim, de uma hora para outra. Fechei os olhos, acordei e lá estava ele, falando das aulas da auto-escola. Tô ficando velha.
Até outro dia ele era um neném, desses de cabelo branco, de tão loiro. Lindo de morrer. Corujise a parte, ele era a criança mais bonita que já vi. A pele ficava marcada com qualquer toque, o que me ferrava, porque nas brigas eu sempre levava a culpa, acusada de agressão. Aquelas manchas roxas eram suas aliadas. Parecia que eu tinha esmurrado a criança. Que nada. Amor da minha vida.
Tocou meu telefone na sexta-feira, véspera de carnaval. Minha mãe, em pânico, dizia que um adolescente tinha ligado dizendo que meu irmão(zinho) estava caído de bêbado num bloco de carnaval. Meu Deus!!! Mas ele é uma criança. Crianças não bebem. Fui atrás dele para constatar o pior: ele não estava bêbado. Estava PEGANDO uma mulher. Palavras dele. Meu Deus!! Criança não pega mulher. Pelo contrário, meninos pequenos nem gostam de mulher.
Tá bom, me conformei. Ele não é mais uma criança. Muito menos aquele neném de cabelos brancos. Ele dormia com um paninho. Minha mãe só deixava eu pegar ele no colo quando estava sentada. Ela achava que eu era boba né? Pegar no colo sentada, não é pegar no colo. Pegar no colo é sair andando por aí com o bebê nos braços. Tudo bem, eu tinha 7 anos.
Agora estou com 24. E meu irmão com 18. Ele sai a noite, bebe, PEGA MULHER. Puta que pariu! O tempo passa rápido pra caralho. Daqui a pouco vai entrar pela minha casa uma patricinha, dessas que eu odeio, de mãos dadas com ele. Aí eu que serei adolescente. Vou colocar pimenta na Coca Light dela. Posso? Ou é muita maldade? Ahhh....ela que me aguarde!

Felicidade

Trimmmmm!!!!! O barulho do interfone interrompeu a atenção da menina, no meio da novela. O interfone sempre vinha antes da campanhia. Ao abrir a porta, aquele beijinho seguido de um abraço. Sim, ao se cumprimentarem, ainda existiam os gestos carinhosos. E eles lutariam para que esse chamegos resistissem ao tempo. Ultimamente, os abraços tinham um novo cheiro. Um perfume que ela achava delicioso. E ficava feliz por perceber que ele se preocupava em estar cheiroso para ela. Maravilhoso saber que o outro gosta de agradar.
Na cozinha, é hora de colocar as cervejas no congelador. Para isso, ele tira todos as guloseimas-engordativas-congeladas do freezer. Ela observa. Com aquele olhar apaixonado. Cada gesto é lindo. Ela sabe que está vivendo o que sempre quis. Parece que achou o que procurava. Caramba. Já tinha perdido as esperanças e até estava buscando sambas na zona sul. Mas, como diriam todos os amigos: “as coisas acontecem quando menos esperamos”. Podia voltar a frequentar a Lapa. E aquela cerveja na geladeira trazia uma felicidade que a menina até evitava comentar.
É a paixão que agora se tornava real. Dividiam a mesma lata de cerveja, comiam no mesmo prato, as pernas sempre entrelaçadas. Não desgrudavam. E se a menina demorasse mais de 5 minutos na cozinha, logo ouvia um grito de “cadê você?”. Eles queriam e precisavam estar juntos o tempo todo. Em frente ao computador, só era necessária uma cadeira. Ela sempre no colo dele. Até quanto aos programas de TV eles estavam de acordo. Ele via novela e ela, futebol.
As duas escovas de dente. As duas toalhas. Uma só cama. E a casa agora tinha aquele cheiro de “casal feliz”, que tantos sonham. A menina transbordava de alegria, mas lembrava de uma amiga de infância que uma vez disse a ela que era para provocar inveja que ela se dizia tão feliz. Agora, então, a menina feliz era quietinha. Mas quem a conhecia via em seus olhos e sorrisos tamanha alegria. Eles tinham se encontrado. Ele estava começando a acreditar que a vida prega peças mesmo, mas um dia as pessoas se encontram.
Do seu lado, ele se sentia seguro. Dizia não gostar de falar sobre sentimentos, mas nas crises de carência fazia declarações. E ela anotava todas as frases bonitas, em um caderninho do ursinho Pooh. Que ele disse querer ler, mas só daqui há dez anos. Ela sentia que a confiança começava a existir. O mais difícil em um relacionamento, principalmente com o histórico dos dois. Mas eles não desistiam. Começavam a acreditar de verdade na relação.Naquela noite, entre os carinhos, cairam no sono. Acordaram às 4 da manhã, com desejo de estar mais juntos do que a física permite. Encaixaram-se, um dentro do outro, e voltaram a dormir. Mais juntos, impossível...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Canadá

Impressionante como determinadas coisas marcam nossa vida. E outras acontecem quase que mecanicamente. De um tempo pra cá tenho pensado em como essa vida nos surpreende. Quando menos esperamos, tudo pode mudar. Hoje estou aqui, sentada numa mesa de escritório, observando as pessoas trabalhando ao meu redor. Há 6 meses atrás, eu estava lá do outro lado, provavelmente tomando um capuccino cheio de creme. “With cream, please”. Eles acham o máximo andar com aqueles copos pela rua.
Morrava num apartamento que achava tudo de bom. Quatro companheiros de quarto. Uma bagunça. No chão da cozinha era praticamente impossível pisar porque o lixo transbordava e as cascas de ovo faziam um tapete junto com as embalagens de queijo industrializado. Eram três apartamentos com quatro pessoas em cada. Quase um albergue.
Minha mãe chegou lá para me visitar. Ou melhor, para me buscar. Ficou horrorizada com o prédio em que eu morava e o estado de calamidade do apartamento. Eu achava tudo ótimo. Até organizado demais. Cada pessoa tinha suas coisas na geladeira e isso era super respeitado. Haviam quatro manteigas, quatro ketchups, quatro maioneses. E olha que as embalagens lá não são nada pequenas. Isso não é organização? Ninguém podia “roubar” nem uma colher de manteiga do outro. Fala sério né mãe, super organização!
Enfim, eu adorava. E as pessoas que lá moravam também. Muita gente passou por lá enquanto eu era moradora do prédio. E acredita que eu, mesmo com minha característica de chatonilda, tenho saudade de todos eles? Talvez o único que não me faça falta seja o japonês que disse que eu era mal-comida. De resto, todos eles foram extremamente especiais. Cada um com seu sotaque.
E aquela época não volta mais. Outro dia eu soube que os três apartamentos agora são habitados por outros brasileiros, desconhecidos por todos nós. Mas pelo menos ficam as raízes. Eles devem estar pisando em ovos. E vivendo momentos em que só saberão da importância depois de aterrizar em São Paulo. São lembranças que ficam, de uma época que não volta mais.
Brindemos a esses 6 meses com uma pitcher e uma porção de nachos?

Saudade

Vejo as estrelas da minha janela, a brisa quente do verão entra pela fresta que está aberta. Meu corpo esticado na cama sente um calor há mto distante. Pessoas passam pelas ruas aproveitando cada momento da curta estação do ano, que tanto foi esperada. Parece que a vida muda com a chegada do verão. Nós, sul-americanos, não damos valor ao clima. Não imaginamos o quanto isso é valioso em países do hemisfério norte. São 10 da noite, o céu ainda azul sereno, com as estrelas começando a brilhar. Os casais, famílias e amigos, felizes…embaixo da minha janela. Ouço vozes, risadas e até mesmo passos. Moro no primeiro andar e a cidade aqui é silenciosa. Cidade pequena, rua calma, poucos carros. Acredite, escuto mais barulho de gente do que de buzina. Talvez aqui nem exista esse componente automobilístico. Buzina? Acho que no primeiro mundo isso é proibido, sob risco de multa. Na verdade não entendo porque aqui existe multa. As leis são cumpridas. Sempre, por todos.
Mas eu não quero aceitar as leis. Eu quero corronpê-las. Quero viver intensamente como sempre vivi. Muitos me chamam de louca, maluca. Nao entendo o porquê disso. Talvez pela minha coragem? Por não ter medo de mergulhar de cabeca? A melhor amiga conta que mergulho em águas geladas sem nem saber se haverá toalhas depois; e ainda diz que eu a levo junto. Que bom! Quero mesmo fazer as pessoas terem coragem de encarar o frio. Eu nao quero esse calor de verao canadense. Quero ouvir as buzinas, sair do trabalho às 6 da tarde com o céu escuro. O céu claro às 10 da noite é lindo, mas…aonde estão os carros, e as ruas de Copacabana?
Num dos muitos apartamentos de Copacabana, ouve-se o barulho de uma mensagem que chega de madrugada. Se este bipe nao for suficiente para despertar meu sono, logo em seguida o toque do celular fará seu papel. Por volta das 5 da manha, quando a night termina e bate aquela sensação pós-efeito etílico de “qual é o sentido desta vida solta”. Qual o sentido de não ter um pé para entrelacar nos seus no meio da noite. As 5 da manha, com o sol nascendo e a sobriedade começando a voltar às mentes, sentimos saudades. O resto do alcool no sangue é o responsavel pelo movimento do dedo que aperta a tecla “Send”. Pronto, meu telefone tocou. E na telinha piscando eu leio seu nome. Dou um pulo da cama. Com o coracao disparado, finjo pensar se devo ou não atender. Mas, para que me enganar? Eh claro que sempre atendo. Essas são as ligações mais carregadas de declarações de amor. Promessas, planos, vontades.
Depois de horas e horas, com o sol carioca ja chamando para a praia, desligamos. Tento dormir, nao consigo. As idéias correm pela cabeça, se cruzam com o que acho certo e o que realmente acontece. Os fatos se chocam. Os questionamentos surgem. Por que ele nao estava ali em Copacabana? Ou eu no bairro ao lado…tanto fazia…nao pecisamos de muita coisa…apenas de quatro paredes…ou mesmo a rua seria interessante. Ele disse que gosta, coisas de adolescentes que despertam tesão em adultos.
Nos gostamos, nos queremos. Muito. Fazemos planos segretos. Imaginamos um monte de coisas. Um mundo muitas vezes chamado de fantasia. Fantasia porque ele assim quer. Porque eu transformaria tudo isso em realidade. No dia 11 de setembro. Sem um dia de atraso. Nao esperaria nem mais um segundo. A saudade corrói.
Ja sao 11 e meia, o céu já está preto. As estrelas mais brilhantes. Uma fatia de lua me dá boa noite, como quem quer dizer “esquece isso”. Não, Lua, a piscina é gelada, mas estamos no verão.

Celular

Era do celular. Que saco! Isso significa que temos que estar disponível sempre, a qualquer momento. Temos que ouvir o celular dentro da boate, temos que parar a reunião para atendê-lo, temos que dormir com ele ligado, temos que deixá-lo no vibracall no cinema. Até na hora do banho ele tem que nos acompanhar.
Precisamos estar presente o tempo todo. Basta um domingo em que você desligue o telefone de casa, coloque o celular no silencioso e fique offline no msn para que no dia seguinte uma boa galera comente: “Nossa!! Você sumiu ontem!” Eu sumi? Não...eu apenas não quis ter contato com pessoas. Quis viver pelo menos um pouquinho dentro da minha toca, com meus pensamentos, minhas neuroses, augústias e reflexões.
Mas a sociedade não me permite isso. Tenho que estar constantemente em comunicação com todos. Com a galera. E eu não tenho escolha. Quando “sumo”, muitos fantasiam sobre “o que eu posso estar fazendo” em pleno domingo de sol. E aí já vem a conclusão de que eu não estou bem, devo estar triste, deprimida, reclusa.
Meu Deus! Quantas cobranças! Será que já não bastam as 8 horas diárias que tenho que passar em um trabalho que odeio? Será que não é sufiente a constante necessidade de estudar sem parar para conseguir um lugar no mercado? Será que é pouco ter que enfrentar o trânsito de Copacabana, as filas do supermercado e a poeira no chão de casa? São muitas obrigações. E até mesmo no domingo eu tenho que estar disponível no celular, no fixo e no msn.
Não! Eu não quero! Quero privacidade. Quero um pouco de espaço. Quero curtir momentos só meus. Ou meus e dele. Fiquem tranquilos, eu estou ótima. Só quero um pouco de espaço.

Nãomorado

Quanto mais “velhas” vamos ficando, mais aumentam as pressões da sociedade, da família e até dos amigos. Nos almoços de família, sempre tem uma tia que pergunta: “Já arranjou um namorado?” Como se o fato de ser solteira fosse sinônimo de problema. “Não tia, não arranjei um namorado. Graças a Deus, por que quero férias daqueles estresses de um relacionamento a dois”. E a minha tia pensa: “Coitada, está se enganando, está parecendo tão sozinha, mas não consegue se envolver com ninguém”. Não consigo não, eu simplesmente não quero.
Quero acordar no sábado e resolver aonde eu vou almoçar. Quero sair para dançar no lugar que eu mais gosto. Quero acordar de ressaca no domingo e tomar uma Coca-Cola às 9 da manhã, sem ninguém me regulando. Quero ver o Fantástico inteiro sem mudar de canal nem nos comerciais. Pois é, eu gosto de Fantástico. Quero comer um crêpe lotado de catupiry deitada na cama. Se sujar o lençol, o problema é meu. Só meu. Sou eu que vou lavar mesmo.
Quero chegar em casa do trabalho e desligar todos os telefones sem ninguém para achar que eu “estou dando o perdido”. Quero chegar às 6 da manhã bêbada, quero olhar pro gatinho húngaro, quero beijar o sujo-descalço. Quero achar que a vida é uma festa, é surfe-praia-verão. E acordar para o trabalho no dia seguinte achando que estou curtindo muito a vida.
Quero fazer todas as besteiras possíveis, beber todas as cervejas do ambulante, misturar com cachaça. Quero voltar falando merda no taxi, enquanto o motorista ri da minha cara. Quero dormir com os pés sujos de Odisséia, porque é claro que eu não os lavo quando chego. Quero comer o salsichão da Lapa, beber de graça com algum gringo e sentir que as mulheres, finalmente, estão mais espertas que os homens. Sentir que agora eles que são os “otários-coitados” das relações.
“Desculpa, tia. Mas eu não quero um namorado.”

Chatice

Pois é...eu faço parte da grande maioria das pessoas que tem Orkut. Graças a Deus que não sou daquelas que passam o dia conectadas, entrando nas páginas de todas as loirinhas gostosas. Mas outro dia, confesso que fuxiquei umas comunidades e....descobri uma que é a minha cara: “tenho preguiça das pessoas”. Confesso, eu sou anti-social pra caralho. Não tenho o menor saco para aquelas conversas de elevador, salão de beleza e escritório. Puta que pariu, as pessoas são muito chatas.
Desculpe, mas não me interessa nem um pouco saber sobre o corte de cabelo da Maria Paula. Parece brincadeira, mas outro dia eu liguei pra minha mãe DE-SES-PE-RA-DA dizendo que tinha cortado meu cabelão e que estava careca. Sabe qual foi a primeira coisa que ela me perguntou? “Você fez o corte igual o do Maria Paula?” Caraca! Esta é uma personagem da novela das 8. Eu teria que lembrar dela na hora de cortar meus cabelos?
Numa outra ocasião estava fazendo nada no trabalho, como sempre, e a menina que senta ao meu lado comentou, num tom de euforia: “Nasceram os filhos da Jennifer Lopez!!!!!” E ela sentiu vergonha por mim quando eu respondi: “Nem sabia que ela estava grávida...” Eu estou realmente por fora né? Não tenho cultura geral nenhuma para conversar com as pessoas....será que é por isso que eu acho todo mundo um saco?
De qualquer maneira, eu confesso que não faço o menor esforço para ser a simpática da galera. Quando começam aqueles assuntos de beleza, dieta e academia, eu já caio fora. Sou totalmente contra qualquer tipo de moda. Ás vezes acho que eu é que sou muito chata. Muito diferente dos outros né? Estou sempre reclamando das patricinhas que têm medo de chuva. O que eu tenho a ver com isso? Por que esssas pessoas me incomodam tanto? É....acho que eu que sou estranha mesmo....
Mas mesmo assim, “eu tenho preguiça das pessoas. Elas são muito chatas”.