Estou tão fraca que não me reconheço. Sinto que perdi alguns sentidos e tenho vontade de mergulhar num mar de lágrimas, ignorando a Praia da Boa Viagem. Sinto medo. E não é apenas dos tubarões. Aquele quarto enorme, aquela cama de filme, cabem 5 de mim. Para que 5 travesseiros se o que eu realmente preciso são os três velhos e sujos da minha casa? Minha casa, minha cama, minha vida.
É, mais uma vez chego em um novo local, um novo desafio, um novo voo semanal. E a cada segunda-feira deixo a minha vida dentro das enormes janelas em Copacabana. Encaro 5 dias sem sentido, na contagem regressiva para regressar à minha vida, ao meu sentido.
Dói demais sentir-se sem chão, sem rumo, quase sem personalidade. O café da manhã mostra a impessoalidade dos executivos vestidos em ternos caros, com largas alianças de ouro amarelo, que denotam status, apenas status. Enquanto isso, na certa, suas magras esposas estão comendo cenoura crua para reforçar a cor do verão. A noite, depois de um passeio no shopping, irão ao motel com seus amantes, tão melhores que seus maridos simplesmente porque podem lhes dar atenção.
Nesse momento, todos os maridos que me olham enquanto tomo meu café preto com queijo branco, colocam dinheiro em suas casas, bem longe daqui. Muito mais dinheiro do que precisam. Não entendem que com menos dinheiro talvez tivessem mais sexo, mais fidelidade. Mas, o que importa mesmo é o status, não é?
Esses maridos que me admiram, tão nova, tão arrumada, tão independente, pensam em mim ao chegar no hotel. Talvez um dia me chamem para um vinho, no lobby, seguido de um banho na enorme banheira. Eu vivo a vida desses maridos e me pergunto: aonde está o sentido de tudo isso? O que significa o status profissional? O que é ter ambição?
Viver: para mim é tão simples. Tenho uma casa linda e decorada, amigos maravilhosos que são o sentido de tudo e uma cidade que é a melhor do Brasil, se não do mundo.
Eu realmente preciso perder a força, os sentidos e a alegria? Tenho motivos para viver esse vazio?