quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Faces

- No que você tá pensando?
- Que a gente não tem nada a ver.
Diante desse desabafo, a menina olhou para ele, assim meio abobalhada. Ficou se perguntando se era aquilo mesmo, ou se, na verdade, não era nada daquilo. Não entendeu porque tanto radicalismo, tanta sinceridade. Não entendeu porque ele pensou isso depois de tanta sintonia desvendada. Não entendeu como uma simples conversa, em que houve desacordo, pode ter gerado uma conclusão tão certeira. “Não temos nada a ver”.
Tudo bem, ela pensou. E lembrou que, para ela, “será” já não era mais a palavra certa. Já sabia como era e agora era seguir, como ele havia dito. Não podemos prever nada, mas vamos vivendo. Ah, vai, não foi tão estranho assim. Estranha foi a forma como tudo aconteceu, mas isso agora já não importa tanto. Foi bom, até melhor do que eu imaginava, confesso. “Será que você vai me preencher assim, certinho?”
- Gostei do seu abraço. Às vezes, parece que somos um só...
- É bom, né?
- Pakaraleo.
E agora, ele vem com um “não temos nada a ver”, seguido de, “acho que estou mais empolgado que você”. Ela já não entendia tanta contradição e sabia que ali, não eram apenas as frases dela que formavam um paradoxo.
Então vem, olhe para as minhas muitas faces e tente desvendá-las. Sou multifacetada. Mergulhe em cada expressão e procure significado para cada novo rosto. Entre no meu ritmo e excite-se com sorrisos tão diferentes. Procure explicação para cada rostinho. Fale da intensidade dos meus gestos. E pense em tudo que desvendamos, que desvendaremos. Pense em quantas novas faces você vai apreciar, se deliciar. E me diga, vai, que “não temos nada a ver”.

Um comentário:

Daniel Souza disse...

Eta chuleta!!

Homens. Sempre servindo de inspirações pra teus textos.

Que este daí continue lhe dando assunto, desventuras, apegos, que te sirva dúvidas em bandeja. Pegue uma e devore...
Só nõ deixe de me presentear com teus textos. Senão ele vai ver só...

De resto, mafungos.