segunda-feira, 22 de junho de 2009

Dois


No fundo, devo ser assim meio metidinha. Acho que entendo da vida, das pessoas, dos sentimentos, das reações e das relações. Por ter esse estilinho meio alternativo, penso demais e acho que entendo demais. Doce ilusão. A gente percebe que não sabe de nada, ou quase nada, quando ouve com atenção nossos pais. Aí podemos perceber que os 40 anos que nos separam deles realmente significam alguma coisa.
Ela, da minha idade, veio com muita ansiedade me contar uma descoberta. O pai dela, muito preocupado com essa vida cheia de relações sem importância, cheia de pessoas cheia de problemas, quer que a filha se estabilize. Profissionalmente, nesse caso, não há muito o que se preocupar. Mas a vida pessoal preocupa. Ele quer alguém tranqüilo, determinado, estável. Alguém que possa, de fato, fazer a filha dele feliz. Não hoje, embaixo dos edredons. Mas, amanhã. Em uma segunda-feira, um dia cheio de trabalho. Cheio de estresse. Com crianças com fome e as contas apertadas para o curso de inglês. Ele quer um futuro para a filha, que hoje já é uma mulher.
Então, ele ensinou a ela que não é o outro que decide que vai dar certo. Que não vai aparecer um príncipe encantado que vai fazê-la mudar de idéia e achar que uma cama quentinha vale mais que milhões de cerveja com as amigas. Não é um corpo perfeito, um carro do ano, um apartamento em Copacabana. Não é um sexo selvagem, um beijo encaixado, um ombro amigo. Não é um jantar a luz de velas, nem um anel de brilhantes.
O príncipe vem quando nós decidimos que queremos que ele venha. Simples assim. E quando nós decidimos, o carro da mãe se transforma no carro do ano, o almoço no restaurante a quilo se transforma no jantar a luz de velas, e o apartamento em Copacabana é nosso e não deles. A gente resolve. E não briga, apenas sorri quando ele deseja colocar as almofadas por ordem de tamanho. Apenas sorri quando ele diz que se irrita com o banheiro molhado. Apenas sorri quando pensa nos filhos e na saudade que virá de 15 em 15 dias.
O nosso príncipe não chegou em um cavalo branco. Mas chegou. Assim, ao mesmo tempo. Coincidência?

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