quarta-feira, 14 de abril de 2010

Volto menos ao passado do que viajo ao futuro. Por vezes me sinto uma menina patricinha de cabelo liso. Moradora da zona sul, saia jeans e salto plataforma. Perfume francês, hidratante Victoria Secret, esmalte rosa. E eu ainda quero parecer alternativa. Diferente. E eu ainda quero conquistar o intelectual, que meu pai é. No fundo, devo mesmo é querer uma aliança na mão esquerda primeiro, depois na direita. E véu, grinalda, flores e champanhe. E devo querer a ilusão de um amor para a vida toda. Exatamente aquele amor que meu pai tanto me disse não existir.

Devo mesmo querer um marido com carro do ano, restaurante chique e vinho francês. Viagens de compras aos EUA, filhos no Santo Agostinho, Cultura Inglesa. Intercâmbio no Canadá, ou Austrália. Queijo brie com damasco, chopp de 7 reais, pizza de 60. Dias inteiros na academia, fim de semana no Jockey. Eu devo mesmo é querer um homem muito burro e workaholic, que minha mãe vai ter orgulho. Minha avó vai chorar de emoção ao me ver de branco, com um bom partido. Vai agradecer a deus por eu ter me encontrado, já que sua esperança de me ver casando já foi pro brejo a tempos. Vão todos comemorar o meu encontro com o amor, sem nem saber que nunca estive tão desencontrada.

Meu pai, do lado de fora da igreja, vai repetir para todos os convidados que isso, para ele, é uma regressão e que eu não fui criada para isso. Eu vou acreditar que estou feliz, minhas amigas vão me achar linda e ter a sensação de que encontrei o amor da minha vida. Vou morar em um apartamento na Barra, porque melhor que isso só se fosse o Recreio. E, num fim de tarde, vou sentar na minha varanda com um cigarro na mão. Cerveja não fará mais parte da minha dieta porque engorda e não é chique. Cigarro é chique.

Vou sentar na varanda e chorar. Chorar muito. Simplesmente pelo fato de ter comprovado o que sempre soube: o homem da nossa vida nunca será nosso. Quando casamos, o homem da vida passa a ser real. E eu realmente sou uma patricinha de cabelo liso. Senso mais do que comum.

Eu não vou te conquistar nunca. Porque você é tudo que eu sempre quis.

Um comentário:

Brrrruna disse...

texto muito bom com conclusão um pouco assustadora... rs

Adorei!