domingo, 2 de maio de 2010

Falta

Meu caro amigo,

Sexta-feira sai do trabalho às 18h. Mas não, não estava indo para casa, muito menos para um happy hour. Você sabe como é nossa empresa, como eles nos testam, querem ver quem agüenta mais tempo. E, como prova de resistência, marcaram um treinamento no escritório até às 22h. Numa sexta-feira. Então, saí do cliente e no caminho passei pelo Bar da Maria. Ó meu amigo, como senti sua falta. Não resisti, sentei em uma mesa e pedi uma Original. O professor logo veio falar comigo, perguntando por você, Diretor. Contei a sua história. Lembrei de como você gostava do pastel de queijo com cebola e eu do risole de frango. Lembrei que você quase não cabia no banheiro e lembrei de como a rotina Bar da Maria fazia minha vida mais feliz.

Ó meu amigo, meu melhor companheiro de copo, se eu te contar que hoje quase não bebo? Se eu te contar que hoje quase não saio? Se eu te contar que dispensei todos aqueles telefonemas? É, meu amigo, lembra daquele namorado, o magrinho? Lembrei de você tentando me convencer do quanto ele era ótimo porque era louco por mim, me tratava como uma princesa e tinha caráter. Mas não... ele não era bom para mim. Tão pouco vivido, eu já estava voltando com a mala pronta quando ele ainda estava separando a primeira peça. Lembro de você me dizendo que então, se eu gostava mesmo do outro lá, que eu pegasse o telefone e ligasse. E se fosse o caso, que eu corresse atrás para ver se ele realmente amava a mulher. E eu não queria, como ficar com alguém que trai com a mesma freqüência que bebemos cerveja? É, meu amigo, e os outros todos? Acredita que não gostei de nenhum. Fui ficando mais experiente e exigente. Tão pouca coisa tem me interessado.

E, sentada ali sozinha no Bar da Maria, lembrei de todas as histórias que discutimos. Lembrei de como você se importava comigo. E tive a sensação de que hoje, talvez você não mais me reconhecesse. De tão na minha, de tão sozinha. Troquei os muitos por um livro, uma música, uma corridinha na praia. Troquei as madrugadas por, no máximo, um sambinha a tarde. É quase uma sensação de desistência, sabe? Mas é só quase. Ainda sou muito nova para isso.

Ó, meu amigo, como sinto sua falta.

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